segunda-feira, 15 de março de 2010

AMÉRICA LATINA

A América Latina é um caleidoscópio: nenhuma analogia lhe fará justiça e não tem sido fácil a construção de uma perspectiva pessoal acerca deste vasto continente e de seus povos. O turista vê somente a estreita realidade que lhe é apresentada, e raramente terá uma percepção justa, correta e abalizada da realidade latino-americana. Os repórteres internacionais, por sua vez, focalizam simplesmente aqueles assuntos que servirão de caixa de ressonância para as suas agências: criminalidade, violência na cidade e no campo, insegurança, instabilidade econômica, disparidade social, favelização dos grandes centros urbanos, etc. Mui raramente terá o turista ou o jornalista internacional condições de entender a complexidade histórica, social e cultural da América Latina, sua origem pré-colombiana e seu legado hispano-lusitano.

Cada um tem sua própria perspectiva, seja ele um historiador marxista, religoso ou secular. Mas espera-se que o pesquisador faça uso de todos os recursos disponíveis para entende-la e compreender seus povos. O problema é que trabalhamos já munidos de uma série de pressuposições ou pré-entendimentos, que conduzem à falha na leitura histórica holística sobre a América Latina. Willian Taylor, da Universidade de Dallas, sugere quatro razões para essa falha:
1 - a percepção histórida dos fatos já preestabelecida;
2 - a percepção histórica arraigada nos valores da classe média ou dominante, ou de um certo contexto socio-econômico;
3 - a percepção histórica autoprotecionista, visando salvaguardar o status quo de um determinado grupo político ou social; e
4 - a percepção histórica exacerbadamente influenciada pelos valores culturais dos povos europeus e do hemisfério norte.

Alguém que viaje pela região , mesmo que seja num só país, pode ser capar de concluir que não existe somente uma única América Latina, mas muitas. Pode-se focalizar suas múltiplas raças: espanhóis, portugueses, índios, europeus, africanos e orientais, numa profunda mistura genética que faz a América Latina ser o que ela é hoje. Pode-se constatar a sua variedade geográfica: das áreas desérticas até suas florestas tropicais, dos vastos pampas às altas cordilheiras dos Andes, que corta quase toda a sua extensão. Pode-se pensar, também, em termos de regionalidade: México, no morte, as nações caribenhas, os países da América Central, as nações andinas e os países do Cone Sul, incluindo Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.

Não existe somente uma língua falada por todos na América Latina. O espanhol é a língua oficial na maioria dos países (cerca de 320 milhões de habitantes). O idioma inglês é a língua falada em alguns (Bahamas, Guiana Inglesa, Belize e Jamaica) e o português no Brasil. Contudo, existem ainda cerca de 670 línguas e dialetos falados em toda a América Latina. A maioria absoluta dessas linguas já era falada antes de Colombro pisar nas terras do "Novo Mundo". A Guatemala, por exemplo, tem 25 línguas diferentes. Se atentarmos para o elemento socio-econômico como fator determinante, há várias Américas para confundir o observador: há uma classe alta dominante que corresponde a 3% a 5% da população; uma classe média correspondente a 15% e uma classe baixa composta por 80% da população. Inserida na chamda classe baixa, há uma faixa de 20% de miseráveis, ou seja, aqueles que vivem em extrema pobreza.

O renomado escritor colombiano Gérman Arciniegas faz a seguinte assertiva sobre os vários grupos étnicos que formam o mosaico latino-americano:

"A América está, hoje, dividida em quatro grupos étnicos distintos: Hispano-americanos, América portuguesa (Brasil), América inglesa (EUA) e América anglo-francesa (Canadá). Quando os quatro processos históricos são claramente delineados, um melhor entendimento de suas diferenças e semelhanças torna-se possível. Por causa de uma série longa de experiências (três séculos de dominação espanhola), os habitantes da América hispânica falam espanhol e, junto à língua falada, são predominantemente católicos como os seus colonizadores. A América portuguesa do Brasil recebeu como legado de seus colonizadores a língua portuguesa, o catolicismo romano e uma cultura diversificada de vários povos: negros, índios e europeus imigrantes nos últimos séculos. A América inglesa dos Estados Unidos construiu a sua língua e cultura herdando dos primeiro colonos de suas treze colôni
as. O povo da América anglo-saxônica do Canadá fala duas linguas: inglês e francês. O Canadá está incluido entre os cinco maiores países do mundo, com uma população bastante pacífica e homogênea. Para nós, estas quatro Américas são quatro processos numa massa continental, caminhando juntas em trilhas separadas na busca da mesma coisa: liberdade!"

Como, então, esta vasta área foi batizada com o nome de "AMÉRICA"? Na verdade, o título originou-se de um italiano que seguiu a Colombo, segudno historiado por Donald Marquand Dozer: "Entre 1499 e 1502, um homem de negócios de Florença (Itália) possuindo negócios em Sevilha (Espanha), Américo Vespúcci, realizou três viagens no curso das quais chegou à foz do rio Amazonas e explorou toda a costa da América do Sul, desde a Venezuela até o rio da Prata (Argentina). Suas descobertas tornaram-se notórias em toda a Europa da época, e assim as terras do novo mundo passaram a ser chamadas de América, em sua homenagem".

Os franceses, por sua vez, começaram a chamar os povos de língua hispânica e portuguesa de "latino-americanos" em virtude das línguas faladas, as quais são de raiz latina. Alguns outros nomes foram sugeridos, tais como "América Hispânica" ou "Ibero-América". A
realidade é que nenhum desses nomes é completamente abrangente e adequado para entender e descrever a rica complexidade histórica e cultural dos povos que compõem o que é chamado hoje de AMÉRICA LATINA. Todos esses nomes alijam completamente a herança dos povos originários.

Gérman Arciniegas ressalta alguns elementos que cimentam a história do
s povos latino-americanos: "Uma herança comum pré-colombiana, a conquista hispânico-portuguesa, o período colonial e os movimentos de independência, a herança religiosa da Igreja Católica Romana em todos os segmentos da vida, um misticismo religioso muito forte oriundo dos diversos povos originários, uma profunda diversidade cultural e musical, com seus ritmos eletrizantes, uma comunicação de gestos e de linguagem mais dinâmica e agressiva, tornando-os uma cultura tocável".

Baseado em texto de Antônio José do Nascimento Filho.

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