terça-feira, 5 de janeiro de 2010

OS TSASE

No início, KÚWAI-SÉIRI, o Espírito do Mundo, habitava na região dos caudais do Ayarí, com a sua esposa e parentes. Os TSASE pescavam, recolhiam frutos silvestres e caçavam. Kúwai-Séiri ensinou-lhes a agricultura, sobretudo, ao cultivo da mandioca amarga. Ensinou-os a semear e a converter esse alimento sagrado em casabe e fécula de mandioca.

Os Tsase, ou "Povo do Tucano", são um dos pequenos grupos indígenas da região que pertenceram à antiga cultura arahuaca. Em algum ponto do passado, essa foi uma das sociedades mais importantes do continente. Habitavam a região compreendida entre o Amazonas e o Delta do Orenoco e controlavam, no Alto Rio Negro, a confluência estratégica entre dois grandes sistemas fluviais, centro da rede de intercâmbio comercial que abrangia, como assinalam as crônicas mais antigas, o Amazonas, as planícies e os Andes. Mudanças políticas e culturais nessa sociedade deram origem aos grupos arahuacos de hoje: os Warekena, os Wakuénai, os Bare e os Baniwa.

No caso dos Tsase, a adaptação a diversos ecossistemas influiu na diferenciação dessa etnia em dois grupos claramente definidos: os da savana, chamados Manukuári, e os da selva, conhecidos como Análima. Atualmente, os Tsase remanescentes habitam principalmente as planícies orientais da Colômbia. Na Venezuela, há alguns assentamentos na região amazônica, como os povoados de Primavera, Laja Lisa, Morichal, Agua Blanca, Siquita-Ibucubáwa e Cataniapo. Outras famílias Tsase integraram-se à vida dos povos de Puerto Ayacucho, San Fernando de Atábapo e Maroa.

A conquista e colonização enfraqueceram o comércio interétnico até fazê-lo desaparecer. As contínuas invasões, retrocessos e deslocamentos dos grupos étnicos da região tiveram como conseqüência não só a redução do território Tsase mas, também, uma mudança dos padrões tradicionais de assentamento. A mudança mais importante foi o abandono das casas comunais. Os Tsase vivem agora em casas unifamiliares ao estilo crioulo, de planta retangular, com uma porta e sem janelas, providas de uma horta familiar onde semeiam produtos menores para o consumo doméstico.

Embora algumas mulheres saibam fiar algodão e tecer com teares, essas técnicas caíram em desuso por causa da assimilação à sociedade crioula. Vestem-se no estilo crioulo e, tudo indica, a aquisição de roupa foi uma das causas da sua migração para a Venezuela, onde podiam adquiri-la com maior facilidade.

Não obstante, os Tsase continuam praticando a arte da cestaria tradicional. Tecem coadores, peneiras e guapas, utilizando fibras diversas como ananás silvestres, inajá, xiquexique e tucumã.

Os Tsase são exógamos e, em alguns casos, praticam a poligamia. A primeira mulher exerce certa autoridade sobre as outras. Mas são raros os conflitos entre esposas. Todas vivem na mesma casa e distribuem as tarefas de acordo com a idade: a mulher mais jovem encarrega-se dos trabalhos agrícolas que requerem força, a mais velha ocupa-se da cozinha, das crianças e da casa. Nessa forma de organização social, o núcleo familiar é a unidade básica de uma estrutura mais ampla, a família ampliada. Cada família ampliada possui um chefe natural, que exerce autoridade. As mulheres e crianças são completamente dependentes da autoridade do marido ou pai.

Os Tsase estão organizados em cinco grandes grupos, descendentes de cinco irmãos míticos, cuja ordem de nascimento determina a posição hierárquica de cada grupo. Os chefes agrupam-se num "Conselho de Anciãos" que reconhece como autoridade o cacique da comunidade que é, por exemplo, o fundador do povoado ou o homem de maior idade e, em todos os casos, uma pessoa de prestígio e mérito.

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