quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

WARACHIKU - A Iniciação dos Jovens no Solstício de Verão

Os jovens que acompanharam os líderes à festa de Qhapac Raymi e aqueles que residiam na própria Cuzco, passavam a noite ao pé da colina onde estava o Templo do Sol.

No dia seguinte, ao nascer do sol, os rapazes eram levados em procissão para o alto da colina e, pela primeira vez, participavam dos sacrifícios rituais conduzidos pelo próprio Sapa Inca. E, assim, começava a FESTA DE INICIAÇÃO: um conjunto de ritos e provas que tinham a finalidade de admiti-los como membros adultos e responsáveis no seu clã, provando serem capazes de desempenhar as funções que lhes seriam confiadas para o bem do ayllu (clã).

No final desses rituais, perante as imagens dos deuses e das múmias, os sacerdotes do Sol entregavam a cada rapaz a sua huaracá (funda de guerra) e sua mirca uncu (veste colorida, bordada de branco e vermelho, com cordões azuis terminados em borlas vermelhas), um gládio de pau de palmeira e uma lança. Eles, então, em conjunto, brandiam as armas, prestavam homenagem aos deuses e às múmias de seus ancestrais e juravam obediência ao Inca.

A seguir, as jovens mocinhas se aproximavam dos sacerdotes e recebiam suas vestes próprias de mulheres adultas: o asco (um vestido comprido e uma pequena blusa) e a Iliclla (espécie de mantilha). Ganhavam, então, o título de SAPAY COYA NUSTA (princesa virgem) ou simplesmente NUSTA (virgem). A presença delas servia como encorajamento para os rapazes. Ao fim de cada prova, elas também eram encarregadas de dar de beber aos participantes e para tanto, muniam-se de cântaros contendo chica. Era o momento de cada uma mostrar quem era seu preferido e estimulá-lo para as provas seguintes.

Já com vestes e suas armas, os jovens desciam para o vale, onde seus pais e os chefes dos ayllus os aguardavam. Esses, então, tocavam nas pernas deles com as fundas dizendo:

"SEJA VALOROSO COMO NÓS TEMOS SIDO.

SEJA JUSTO E RETO, HERDEIRO DA HONRA DE SUA RAÇA.

MOSTRE-SE DIGNO DOS SEUS ANTEPASSADOS!"

Com essas invocações terminavam os ritos preparatórios. Os rapazes iam, então, para um campo afastado da cidade, preparado para eles passarem aquela noite, onde encerram o dia com danças. As nustas levaram-lhes chica e os estimulavam para os dias seguintes, quando começariam as lutas esportivas, a exercícios e a cerimônias religiosas.

Ao amanhecer, os participantes deveriam correr até o santuário de Anahuarca, a três quilômetros dali, no alto de uma colina, onde era cultuado o Deus Falcão. As nustas já os aguardavam lá, estimulando-os com palavras e gritos.

As provas esportivas se alternavam com cerimônias de sacrifícios. O ponto de partida e de chegada eram sempre santuários que comemoram a lembrança de episódios religiosos ou históricos incas. Ao fim de cada prova, os anciãos fustigavam os jovens, para ensinar-lhes a disciplina e a idéia do sacrifício. O dia encerrava-se sempre com mais danças, festas e cânticos.

O vigésimo primeiro dia era o mais importante: os jovens eram levados para o alto da colina de Yavira e, após grandes sacrifícios às divindades dos ayllus, o Sapa Inca entregava a cada um as insígnias de seu clã e brincos com as cores e símbolos próprios.

A Festa da Iniciação terminava com a cerimônia da purificação, quando os jovens banhavam-se nas águas sagradas de Calizpulquio. Em seguida, eram-lhes furadas as orelhas para a colocação dos brincos. E, por fim, eles iam, com uma grande pompa, buscar a imagem de HUYANA PUNCHA ("o dia novo"), depositada no templo do outono enquanto duravam as festas de iniciação, e levá-la templo do Sol.

Após isso, cada chefe pegava a sua múmia e acompanhado pelos novos adultos – rapazes e moças –, voltavam à sua região.

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