domingo, 5 de julho de 2009

EL DESPERTAR DEL PUMARUNA

Em Chavin, um povo da América do Sul, vivia um menino chamado Tukano... Ele gostava de correr pelos templos e praças de seu povo, que eram adornados com esculturas de pedras com forma de animais e seres fantásticos. Habituou-se a “conversar” com as esculturas de felinos, águias, falcões e serpentes, como quem inventa histórias e contos. O menino sentia uma grande atração por aquelas figuras, embora algumas lhe causasse medo.

Um dia, Tukano foi muito cedo para o templo e passou o dia todo brincando com as esculturas. Pela primeira vez sentiu como se os animais tivessem vida, “ouviu” vozes e “sentiu” movimentos. Naquela noite, impressionado pelo que havia visto e ouvido no tempo, o menino teve um sonho... Apareceram as figuras da águia e do falcão e lhe disseram:

- Tukano, teu povo está em perigo. Será atacado por gente do norte. Têm que estar preparados.

No dia seguinte, acordou sentindo-se muito intranqüilo. De imediato foi ver o Xamã, que tinha grande sabedoria, se comunicava com os espíritos e curava as pessoas. O menino sabia que o Xamã podia ajudá-lo.

- Xamã – disse Tukano –, de noite sonhei que nosso povo vai ser atacado por homens de outros lugares, que provocarão uma grande guerra. Que devemos fazer?

- Não te preocupes – contestou o Xamã –, essa é o sinal dos espíritos que eu estava esperando.

- Mas, Xamã – insistiu Tukano, ainda muito inquieto –, como vamos nos defender?

- Mantenha a calma, Tukano – respondeu o Xamã –, tranqüiliza teu coração. Deixa isso em minhas mãos.

Então o Xamã reuniu todo o povo; fizeram um grande fogo e começaram a tocar tambores e outros instrumentos. O Xamã bebeu uma poção mágica e, usando uma máscara de jaguar, foi para o centro do grupo e começou a mover-se no compasso da música. De repente, jogou a cabeça prá trás, estufou o peito... e começou a dançar.

Tukano, com os olhos muito abertos, estava assustado. Era a primeira vez que assistia a essa cerimônia.

Enquanto isso, o Xamã continuava a mover-se, curvando os ombros para trás e o ventre para cima. Pouco a pouco sua pele foi mudando de cor, tornando-se amarelada e com manchas negras. Seu rosto começou a alterar-se: os dentes cresceram e sua mandíbula ficou mais protuberante, assim como sua musculatura tomou características ferozes. Os pés e as mãos tornaram-se patas de jaguar, com aquelas temíveis e afiadas guarras.

Tukano já não cabia em si de assombro. Finalmente o Xamã se transformou completamente em jaguar.

Quando Tukano viu o jaguar compreendeu que já não corriam nenhum perigo, porque agora era este felino quem os defenderia. Tukano, muito tranqüilo, entendeu que estavam a salvo. Nada nem ninguém poderia vencer o jaguar. Este era o animal mais forte, poderoso e feroz da Terra. Com sua velocidade e força poderia combater quem quisesse atacá-los.

O rugido do jaguar era a voz do trovão, e sua cor representava o poder do Sol na Terra. E foi o próprio Sol que lhe confiou que cuidasse e protegesse sua criação. Além disso, o jaguar tinha a habilidade de ver de noite, o poder de mover-se pelas cavernas, por baixo da terra e sobre sua superfície, e em árvores. Com esses poderes podia atuar como intermediário entre os Espíritos da terra e do céu, e vencer qualquer inimigo.

Mas Tukano também entendeu que seu sonho significava que ele seria o sucessor do Xamã. Compreendeu que a atração que sentia pelas esculturas do templo era um sinal de que os Espíritos o haviam escolhido e estavam se comunicando com ele. Que assim ele estava adquirindo poderes e sabedoria para comunicar-se com os Espíritos. E um dia, quando fosse grande, poderia ser ele o próximo xamã e transformar-se em jaguar.

Conto de Ana María Pavez Recart

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A cidade-templo de Chavín de Huántar é considerado o centro cerimonial mais antigo dos Andes, datando de 1.000 a.C. Ao que se sabe, foi onde começou o culto ao DEUS JAGUAR ou o PUMA SOLAR, que se espalhou por toda a América do Sul, inclusive no Brasil. Associado ao trovão e à chuva, é a divindade mais tradicional e popular em toda a Abya Yala.

Séculos mais tarde, a Cuzco foi construída na forma de um jaguar. No solsctício de inverno, pela posição geográfica da cidade em relação às montanhas que a cercam, sabiamente aproveitadas pelos Incas, o Sol ilumina gratativamente a cidade, começando pela "cauda" do Jaguar (noroeste da cidade) e percorrendo toda a "coluna vertebral" (chamada de PUMAKURKU) até chegar à "cabeça" - na fortaleza de Sacsayaman. Esse fenômeno era chamado pelos incas de EL DESPERTAR DEL HATUN PUMA!

Cuzco é, então, a CIDADE PUMA, representando o Puma Solar na Terra. Na época dos incas, o Solstício de Inverno era comemorado em Huacaypata - a praça principal de Cuzco que ficava exatamente no CORAÇÃO DO PUMA. Dessa praça - do coração do Hatun Puma - partiam quatro estradas que levavam aos "quatro cantos do mundo" ou Tawantinsuyo, como os incas chamavam seu país. Tudo nascia desse coração! Por isso, no dia do solstício, os senhores dos quatro cantos percorriam a estrada de volta à sua origem: Cuzco, o Umbigo do Mundo... a Cidade-Puma.

PUMARUNA - "HOMEM-PUMA"

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