quinta-feira, 9 de abril de 2009

PEABIRU - O CAMINHO ANTIGO

PEABIRU é uma palavra tupi-guarani que quer dizer “CAMINHO ANTIGO”; “CAMINHO DO CÉU”; “CAMINHO DA MONTANHA DO SOL”. Milenar, o caminho foi descrito pela primeira vez no século XVI como uma trilha de cerca de oito palmos de largura por 40 cm de profundidade, forrado com gramíneas que impediam o crescimento do mato, indo de Porto dos Patos, no litoral de Santa Catarina, até a Assumpção, no Paraguai, e Potossi, na Bolívia, onde se encontra com a Estrada Real Inca e, daí, chega-se até ao Pacífico. Ou seja: é um caminho transcontinental pré-colombiano.

Os estudiosos ainda não têm certeza de quem abriu o Caminho do Peabiru, mas há duas hipóteses:

1 – CAMINHO INCA – a hipótese mais corrente é que a construção dessa estrada foi uma iniciativa inca ou pré-inca, visando o comércio com tribos dos atuais Paraguai e sul do Brasil. Essa construção, com mais de 2000 quilômetros, trouxe as poderosas civilizações andinas até o Atlântico sul. E, sendo uma via de mão dupla, o Peabiru permitiu que os guaranis também chegassem aos Andes. É espantoso constatar que os Guarani de Florianópolis, ainda hoje, falam que conhecem Potosí nos Andes; que sabem com o ir e como voltar a pé.

As idas e vindas de guaranis e incas pelo Caminho deixaram vestígios de uma certa influência cultural na astronomia (leitura e uso de manchas da Via Láctea), estatística (semelhança do AINHÉ, cordão de cipó guarani, com o quipu dos incas), música (flauta andina), armamento (semelhança da MACANÁ e da BORDUNA guarani com a MAQANA incaica), denominação de fauna e flora – como por exemplo: SARA (espiga, em guarani; milho em quechua), CUI (roedor, nos dois idiomas), JAGUAR (felino, nos dois idiomas), SURI (ema, nos dois idiomas) e MANDIOCA.

2 - CAMINHO PARA A TERRA SEM MALES – porém, também há a possibilidade de que o Peabiru possa ter sido aberto pelos GUARANIS ou por povos anteriores (talvez os ITARARÉS). Originária do Paraguai, a tribo teria se deslocado para o litoral sul do Brasil, entre os anos 1000 e 1300 a.C. O Peabiru – ou pelo menos na sua porção que vai de Assumpção à costa do Atlântico – teria sido aberto nessa migração, cujo objetivo era procurar a TERRA SEM MALES – o “paraíso” guarani.

Seja como for, o fato é que o Caminho do Peabiru está fortemente ligado à cultura dos povos indígenas do Paraguai e de Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul, constando inclusive como referencial de sua astronomia.


Olhando o mapa do Peabiru, uma coisa que chama logo a atenção é o fato dele não ser na direção norte-sul e nem leste-oeste, mas sim “inclinado”; ele vai aproximadamente de sudeste para noroeste. Ao notar essa inclinação, a primeira pergunta que se coloca é a seguinte: por que os índios escolheram essa direção ao abrir a trilha? E como eles se orientaram para percorrer esse caminho?

Ao olharmos para o céu, em condições propícias, vemos a Via Láctea, que é chamada pelos guarani de CAMINHO DA ANTA (Tapirapé), ou MORADA DOS DEUSES. É natural supor que o caminho para a Terra Sem Males seria similar àquele caminho que estava lá em cima, no céu... que é o Caminho dos Deuses e dos espíritos. Ora, seguindo a Via Láctea por terra, viam que o fim do Caminho Celeste ia dar no mar, no oceano Atlântico. Portanto, a Terra Sem Males ficaria “ali”, ou “lá”, em algum lugar. Por isso eles foram na direção do mar. Mas e do lado contrário do Caminho da Anta, o que existe? Indo à procura na terra, seguindo a Via Láctea, acabou chegando num outro mar – o oceano Pacífico. Então a idéia básica é essa: o Caminho que os construtores do Peabiru percorreu é aquele da Via Láctea. E que é também, aproximadamente o caminho que liga as posições do nascer-do-sol no verão com o pôr-do-sol no inverno. Ou seja: SUDESTE-NOROESTE.

Baseado na palestra do astrônomo GERMANO BRUNO AFONSO
I Encontro Nacional dos Estudiosos do Caminho do Peabiru, em Pitanga-PR

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